Os Descobrimentos e a Economia Mundial, Volume III
Godinho, Vitorino MagalhãesPela primeira vez na história do Oriente apresentavam-se compradores que não eram simplesmente comerciantes —particulares—, mas sim poderes navais temíveis agindo em nome de um Estado estrangeiro por conta dos seus mercadores e de si próprio. A própria novidade de tal interlocutor suscitou equívocos e provocou colisões. Decerto, nas primeiras viagens os particulares puderam tratar livre e directamente com os comerciantes malabares; os marinheiros chegaram a vender as camisas a fim de adquirirem as cobiçadas especiarias. Mas o capitão-mór da armada intervinha na qualidade de embaixador do rei de Portugal junto dos reis malabares, assinando tratados de comércio, de acordo com os quais deveriam efectuar-se as transaeções, mesmo privadas. Em 1500 Cabral conseguira carregar pimenta em Cochim e canela em Cananor, e deixar uma feitoria na primeira destas cidades, sem que tivesse havido negociações formais concluindo-se por um instrumento escrito; João da Nova pudera proceder da mesma maneira no ano seguinte em Cananor. Em contrapartida, logo no começo de 1503 Vasco da Gama assina em Cochim um tratado que servirá de paradigma às relações com os outros mercados do Malabar; esse tratado, conquanto discutido com o conjunto dos mercadores indígenas, compromete as duas coroas. Em primeiro lugar, a instalação da feitoria fica de oravante reconhecida por um instrumento de direito interna cional. Em segundo lugar, os preços ou as razões de escambo são fixados, bem como as formas de pagamento.....